Imagem e Liberdade

O crítico e historiador das artes e da cultura Mário Pedrosa, um dos pensadores latino-americano mais importantes do séc. XX, para quem o afeto vem antes que a razão, define a arte como o exercício experimental da liberdade. Pedrosa afirmou a vontade criadora da arte como aspiração à liberdade através da revolução das sensibilidades.

Em meio aos mais cruéis dos regimes sociais, os fascismos aparecem no mundo contemporâneo como instrumentos de imposição de um modelo de arte confinada às regras da moral, normas arbitrárias, onde o Estado decide e tem poder de Polícia sobre o que pode ser objeto de fruição das artes, definindo assim as modulações das sensibilidades sem qualquer compromisso ético e, sobretudo, sem passar pelo crivo da vida (Nietzsche). As forças da negação passam a determinar os regimes do sensível, impedindo os viventes de abrir-se às diferenças, sejam elas expressas através dos fazeres artísticos ou na dimensão da vida social.

Como força reativa, assistimos ao discurso do ódio, a militarização dos prazeres do corpo, a modelização da ordem familiar, além do desmantelamento das conquistas dos povos não-brancos e o apagamento de quaisquer que sejam as configurações de comunidades de miserabilizados em estado de apartação.

Ao exercício da liberdade da arte se contrapõe uma lógica que é insensível aos apelos do direito à vida. Ao desejo de liberdade que atravessa as artes que se dirigem ao mundo, são contrapostos uma série de imposições e enquadramentos que repercutem e ganham adesão entre os setores mais fragilizados da sociedade. Tomados pelo medo da liberdade, tema dos mais recorrentes na literatura e nos grandes escritos dos dois últimos séculos – Tolstoi, Kafka, Thomas Mann, Camus e, sobretudo, em Dostoievski – a produção artística é o alvo das sociedades em estado de fragilidade.

Pautados pelas forças da liberdade e pelo desejo de inscrever sensibilidades em regimes que passem pelo crivo da vida (Nietzsche), propomos ter como eixo mobilizador do nosso III Encontro Internacional de Imagem Contemporânea o tema da “A Imagem e a Liberdade”. Que as imagens, o cinema, as obras artísticas sejam objetos e a um só tempo atravessados pelo ímpeto da liberdade, colocando-se em relação direta com a vida dos negros, das mulheres, dos indígenas, das sexualidades não-normatizadas, com as diversidades religiosas, com a formação de sensibilidades estéticas livres.

III EIIC

O III Encontro Internacional de Imagem Contemporânea reunirá pesquisadores de universidades do Brasil, Itália, França e Argentina para debater e apresentar trabalhos que tratem sobre o estado e o estatuto das imagens contemporâneas, com especial atenção às novas formas e práticas do cinema e da fotografia com as tecnologias digitais.

O EIIC chega à terceira edição como um espaço privilegiado de reunião de pesquisadores fundamentais para o pensamento das imagens contemporâneas nas suas mais diversas vertentes estéticas, políticas e sociais. O Encontro se propõe, partindo de novas perspectivas de compreensão e produção de imagens e de diversas linhas de pensamento, a refletir sobre questões que visam diferentes apostas estéticas, éticas, de produção tecnológicas e políticas da imagem na contemporaneidade.

As discussões envolvendo as imagens contemporâneas com as artes plásticas, o cinema, o vídeo, a fotografia, a performance e as mídias digitais se darão de forma transversal, proporcionando a interdisciplinaridade que o tema requer. O intuito é promover a troca e a disseminação da prática da pesquisa e da produção de conhecimentos no campo expandido das imagens, através de mesas de debate, exposições, mostras de filmes e instalações.